Qualquer olhar mais preguiçoso compara a Cidade do México com a cidade de São Paulo. Sim, há semelhanças: poluição, motoristas trogloditas, um tamanho de cidade incabível para a realidade urbana, fruto de desenvolvimento econômico e administrativo centralizado – a cara do terceiro mundo – e com violência urbana administrável.
Acontece que a Cidade do México, apesar de tudo isso, é muito melhor que São Paulo. Quer saber por quê?
– é mais bonita. O México, assim como a Argentina, foi um dos poucos países latino-americanos a gozar de alto desenvolvimento urbano no século XIX, fruto da vinda da corte espanhola para o que era chamado de A Nova Espanha. A arquitetura colonial e imperial da cidade é presente em diferentes e lindos bairros como Condesa, San Ángel e todo o o centro da cidade.
– O centro da Cidade do México é planejado, com gabarito baixo e ruas largas e retas. Todos os prédios têm arquitetura deslumbrante, são limpos e estão em ótimo estado de conservação. No miolo do centro, ainda há o Zócalo, sede do poder governamental, com a colossal catedral e o imperdível Palácio Presidencial. É no palácio que estão os murais gigantes de Diego Rivera, que contam a história do país, desde os tempos pré-colombianos até o século passado, passando pela resolução comunista que quase vingou no México, antes mesmo da Rússia. A própria revolução é fruto de um país que produzia pensamento já no final do século XIX devido ao seu alto grau de desenvolvimento urbano.
– Os bairros Condesa, Sán Angel e Roma são um pouco de Pça Benedito Calixto, Pinheiros, Jardins e Vila Madalena. Só que com muito mais charme, pois a arquitetura desses bairros ajuda a que tenham uma cara mais bonita.
– A Cidade do México é toda plana, o que a torna fácil de percorrer e entender. Há parques espalhados por toda a cidade. Um destaque é para o parque de Chapultepec, onde está o antigo palácio imperial, sede do poder dos Habsburgo na Nova Espanha. Do parque, se vê toda a avenida Reforma, que deve ser percorrida a pé para chegar ao Zócalo, passando pelo bairro de Roma por um lado ou Polando por outro.
– Polanco é uma espécie de Higienópolis. Mais bonita, mais limpo, com prédios de gabarito mais baixo e com uma rua, a Presidente Masarik, que concentra restaurantes de luxo, cafés e todas as grifeses que fazem os olhos dos brasileiros brilharem.
– Os museus da Cidade do México abrigam o patrimônio histórico mais importante das Américas. O Museu de Antropologia explica e mostra de maneira clara e interessante todas as civilizações mexicas, que habitaram as região, com salas divididas por Maias, Astecas, Toltecas etc. Ao atravessar cada sala, ainda saímos num pequeno jardim que simula as cidades e aldeias destes povos. Ainda falando dos museus, imperdível também é o Museu Templo Mayor, ao lado da Catedral do Zócalo. Fruto das escavações do metrô, você percorre as antigas pirâmides de sacrifício humano que foram soterradas pelos espanhóis na construção do Zócalo – a pedra do sacrifício está lá intactada. Valem também serem conhecidos os museus do design mexicano e o museu de arte popular mexicano – esse principalmente pela loja!
– Falando no metrô, é essa a forma mais rápida e mais segura de andar pela cidade. São 12 linhas que vão do aeroporto a todos os pontos de interesse. Entre no clima, não tenha medo e tome os cuidados necessários que você tomaria em qualquer cidade do mundo. No México, tema os taxistas. As tarifas são baratíssimas e tentadoras. Se não resistir, é só pegar o telefone de uma cooperativa e chamar seu veículo.
– Além de ser toda plana, diferente de São Paulo, a Cidade do México ainda está rodeada por vulcões com picos nevados, dando um ar especial à paisagem e ao horizonte. Falando em paisagem, repare também que os arranha-céus mexicanos foram elevados a partir da década de 90, quando dominaram as construções mais resistentes a terremotos. Por isso, você vai ver uma cidade de gabarito baixo e harmônico, com as exceções dos arranha-céus arrojados.
Comida Mexicana
Comer num mercado popular é uma experiência tão interessante quanto ir em um belo restaurante. No México, há váááários mercados populares onde são vendidas comidas típicas, pratos do dia, ‘artesanías’ e refrescos.
Ao lado do meu hostel, no descolado bairro da Condesa, havia um desses mercadões. Mas estava mais para mercadinho e era mais limpinho, organizado e convidativo do que os outros que conheci. Era hora do almoço e os mexicanos que trabalhavam na região começavam a chegar. De perto, fazia o que adoro fazer: olhava-os discretamente enquanto escolhiam o local de seu almoço, pediam seus pratos, tiravam seus ‘sombreros’ e conversavam.
Um dos locais me pareciam mais apetitosos do que os outros: o Tortas Helen Criss.
Torta, em ‘mexicano’, é sanduíche, ou ‘sandwich’ em espanhol. Como bom país latino, o México tem o delicioso hábito de colocar abacate em seus sanduíches como se fosse maionese. Olhei o menu: tinha linguiça com queijo, tomate e abacate, carne de porco com carne de vaca e dois queijos, queijo com abacate e salada, tudo servido num gigantesco pão francês. Me chamou a atenção a opção “Torta Helen Criss”. A simpática atendente logo falou: “Para tu estómago?! No.”
Me contentei pela torta de carne de porco com queijo branco, abacate e tomate. Para acompanhar, minha dependência líquida desde que coloquei os pés em terras mexicanas: horchata de arroz, docinha e geladinha, num copão de 800ml.
ANTES
DURANTE
DEPOIS, com um curioso jeito de não precisar lavar o prato.
Findo o serviço, satisfação muito alta, barriga cheia e uma refeição que segurou as pontas do resto do dia até pegar o avião do DF a Monterrey. O preço convertido: R$ 7,00. Ridículo.
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