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Paris – Dia 1 – FRANÇA

Todo mundo tem mil dicas e mil visões sobre Paris. Conheci a cidade em 1997. Era a primeira vez em que eu ia pra Europa, com meu dinheiro juntado num voo Rio-GRU-Recife-Zurich-Paris da Vasp! Achei tudo ótimo e divertido. E lembro que uma amiga foi me receber no aeroporto e a sensação que tive ao sair do metrô na Rua de Rennes, onde ficava meu hotel. As calçadas eram perfeitas, era tudo eficiente mas a grande maioria dos prédios era muito antiga. Eu me sentia de vato no velho mundo.

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Meus pais, ainda casados, estavam também na cidade e foram me encontrar no meu hotel. Eles estavam no lado da Opera, do outro lado do Rio. E eu do lado boêmio. Lembro que fiz tanta coisa naquele dia, mas tanta coisa… Não sei como aguentei. Mas lembro de a gente indo do Café de Flore, em Saint Germain de Prés. De lá, minha amiga Bia me encontrou de novo e subimos a Torre Eiffel, que é um programa que precisa ser feito porque, por mais que já existam estruturas muito altas no mundo e eu já ter subido em muitas delas, nada nunca me deu a sensação de estar tão alto quanto no dia em que subi a Torre Eiffel. Talvez pelo fato de o gabarito da cidade de Paris ser baixo e a torre erguer-se por mais de 300m em meio aqueles prédio baixinhos. Ainda tive a sorte de não pegar muita fila e poder ter visto o por do sol lá de cima. Na época, não tinha máquina digital. Tenho alguns registros, mas nunca digitalizei.

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Lembro ainda que depois disso encontrei meus pais e fomos no Louvre num esquema ver e dar check na Monalisa, na Venus de Milo, na coleção egípcia. Tudo muito rápido e intenso para depois voltar para o hotel e dormir!

Era inverno e agora eu tive a oportunidade de ir de novo no verão, o que é diferente, pois a cidade, que já é a mais visitada do mundo, fica ainda mais abarrotada de turistas, o que é espantoso. Paris está cara, ou segue caríssima, mas é aquela cidade em que você sai de manhã pra andar e só volta de noite de tanto admirá-la.

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Montmartre

Dessa vez, tive muitos dias na cidade e resolvi fazer algumas coisas que eu ainda não havia feito. E destaquei algumas das que me marcaram mais.

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Centro Georges Pompidou

Fui a Montmartre e almocei num restaurante delicioso. que eu infelizmente não me lembro o nome. Saberia até reconhecer pessoalmente – tentei agora pelo google maps – mas não consegui. De lá, desci andando em caracol em direção ao Marais, o antigo bairro judaico que já foi pobre, mas hoje é talvez a região que mais ferve culturalmente em Paris. É lá que está o Centro Cultural Georges Pompidou, que tem exposições de arte moderna e contemporânea, além de restaurantes. O local é uma atração já pelo prédio em si Vi uma exposição farta do Mike Kelley e do Roy Lichtenstein.

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De lá, cruzando a Pont des Arts, em que muitos apaixonados colocam seus caderninhos, cheguei a um dos museus mais bizarros e interessantes de país, em Saint Germain de Prés. O Museu da Escola de Medicina tem um acervo aflitivo de instrumentos utilizados para amputar, fazer exames, retirar pedras dos rins… Tudo numa época em que a anestesia muitas vezes era um trago de bebida alcoólica.

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Exame ginecológico

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Isso entrava pela uretra e retirava as pedras que estão expostas ao lado da ferramenta

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Kit de amputação

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Foi também na Rive Gauche que visitei o museu Rodin, que vale muito pelo passeio no jardim. As obras do mestre modernista da escultura contemporâneo dos pintores tão celebrados que romperam com a história da pintura na virada do século XIX para o XX. Rodin fazia o mesmo trabalho com a escultura, quando  entendia que a ideia da forma poderia ser mais importante que a representação fidedigna.

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Dois lugares para comer são muito legais na Rive Gauche: o primeiro é pra quem, como eu, adora foie gras, apesar de saber do método cruel de preparo da iguaria. Um é o Comptoir de la Gastronomia, onde comi um ravioli de foie gras com molho branco.

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Outro é uma rede que está em vários locais da cidade, mas é muito boa pra quem gosta de mexilhão: o Leon de Bruxelles, que não tem em Bruxelas 😛 E lá comi meu prato de mexilhão com molho de tomate queijo.

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A Monalisa

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Repare em alguns aspectos interessantes deste quadro. O primeiro é que muito se suspeita da não- existência da Gioconda, a musa retratada. Atribuiu-se ao próprio Leonardo  Da Vinci esta que seria a sua versão em forma de mulher, o que já questiona o papel de alguém que posa para a pintura em si ou pede a um artista para retratá-lo coerentemente. Ou seja: um retrato, para existir, precisa ser concebido antes mentalmente para depois ser passado para o papel. E o que vemos com a Monalisa é que o retrato não necessariamente irá retratar alguém que seja real.

Outros aspectos interessantes da Monalisa são sua noção de tridimensionalidade. Repare o canto direito e no canto esquerdo do quadro. Eles estão propositalmente desalinhados para que a cada canto que se direcionar o olhar se tenha uma diferente perspectiva da boca. A Monalisa pode estar sorrindo ou pode estar séria, dependendo de seu olhar. E como Da Vinci consegue esse efeito na boca? Esfumaçando seus cantos, conforme podemos ver.

Por que essa é uma das pinturas mais importantes e a mais famosa da História? Porque iniciava o processo de discussão da Arte como algo mental. Incluía a pintura no hall das “artes” ou da Arte. E definitivamente  com o Renascimento e a  valorização da burguesia e da acumulação individual de dinheiro, a individualidade assumia o início de sua história bem sucedidade.

O ápice da manifestação individual, a arte, poderia agora ser materializada e, diferente da Música, da Matemática e da Filosofia, poderia ser adquirida mediante dinheiro. E assim se iniciava um período de quase 5 séculos de arte considerada uma materialização do pensamento do artista, tendo a pintura e a escultura com patrocínio burguês turbinando sua ascendência e consolidando o que passaríamos a chamar de Arte Formalista.